segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Caso Clínico: PARAPARESIA ESPÁTICA HEREDITÁRIA

Caso clínico apresentado no dia 13 de Fevereiro de 2014.

PARAPARESIA ESPÁTICA HEREDITÁRIA

Paraparesia Espática Hereditária (PEH) é uma doença rara que abrange um grupo de distúrbios neurológicos que afetam, principalmente, os neurônios motores superiores provocando fraqueza e rigidez nos membros inferiores. É uma doença genética hereditária caracterizada por uma permanente contração dos músculos das pernas, fator que causa espasticidade e fraqueza muscular. A forma mais predominante da doença é a autossômica dominante que representa 70 a 80% dos casos.
A espasticidade muscular ocorre devido á degeneração dos neurônios, os quais apresentam corpos celulares residentes, principalmente, no cérebro e na medula espinhal. A degeneração ocorre em axônios longos, os quais apresentam deficiência em mitocôndrias e outras organelas, sendo assim, há redução da produção de ATP, fragilizando os axônios longos e tornando-os mais suscetíveis á degeneração (Fink, 2003).
Segundo Fink (2002), o aparecimento das primeiras manifestações clínicas da PEH varia e pode se iniciar na infância ou após a sexta década de vida. Entretanto, vale ressaltar que a doença é frequentemente iniciada na infância ou adolescência, persistindo até a vida adulta. Geralmente, quando os sintomas surgem na infância, a perda funcional é relativamente pequena com o passar dos anos.
O início da doença é insidioso, lento e progressivo com sintomas que podem se agravar com o passar do tempo. Um dos sinais mais característicos da doença é o andar de tesoura que é acompanhado pelo sinal de Babinski (o maior dedo do pé tende ao enrijecimento e arrasta-se pelo chão), ambos prejudicam o caminhar e geram cansaço muscular nas pernas. A sintomatologia inicial da doença é o grau variável de rigidez, espasmos musculares, enfraquecimento dos músculos inferiores e problemas no controle da bexiga, sendo que a doença afeta os esfíncteres inferiores. Com o passar dos anos pode ocorrer retardo mental, demência, epilepsia, retinopatia, ataxia, entre outros.

O diagnóstico da PEH se baseia em um estudo cuidadoso da história familiar do paciente, além de exame físico e neurológico acompanhado por um estudo genético. Atualmente, nenhum tratamento é capaz de retardar ou modificar o curso da doença, sendo necessário o controle médico dos sintomas e fisioterapia. Entretanto, o baclofen pode auxiliar na redução da espasticidade em alguns pacientes.


CASO CLÍNICO

Uma busca no banco de dados Scielo com as palavras-chave “Paraparesia Espática Hereditária”, “Caso clínico PEH” e “Strumpell-Lorrain” rendeu um número muito reduzido de artigos. A partir disso, foi escolhido o caso clínico de duas irmãs que sofriam da patogenia relatada acima. Ambas foram submetidas à colecistectomia, que é a retirada da vesícula biliar. Entretanto, o interesse principal nestes dois casos foi a opção pela anestesia geral nas duas pacientes, pois o uso de bloqueadores neuromusculares nas cirurgias torna-se perigoso para portadores de PEH, devido ao risco de relaxamento muscular exagerado.


   Caso clínico 1:

- Mulher de 47 anos;
- Diagnóstico de PEH aos 23 anos;
- Hipertensa;
- Dependente de acompanhamento diário;
- Tratada anteriormente com hidroclorotiazida e baclofeno;
Durante a cirurgia não foi necessário o uso de bloqueador neuromuscular e não houve incidentes hemodinâmicos ou respiratórios. Mas ao final do procedimento foi administrado sugamadex (reverte o bloqueio neuromuscular) devido ao surgimento de bloqueio neuromuscular moderado. A paciente recebeu alta da unidade cirúrgica e levada para a enfermaria após três horas. Não houve efeito adverso.


  Caso clínico 2:

- Mulher de 43 anos;
- Diagnóstico de PEH aos 16 anos;
- Surdez profunda, déficit cognitivo, déficit de visão.
-Tratada anteriormente com baclofen, tizanidina, clonazepam e nicardipina.
            Durante a cirurgia não foi necessário o uso de relaxante muscular. Além disso, não houve alterações hemodinâmicas e respiratórias na cirurgia. Ao final do procedimento cirúrgico a paciente recebeu sugamadex. A paciente permaneceu 48 horas com evolução favorável, recebendo alta hospitalar em oito dias.



            DISCUSSÃO

            Estudos indicam que a anestesia regional exacerba os sintomas neurológicos, mas esse tipo de anestesia não é viável em todos os procedimentos cirúrgicos. Portanto, como segunda opção há a anestesia geral que quando esta acompanhada de medicamentos que oferecem reversão rápida do bloqueio muscular pode ser segura. Em ambas pacientes optou-se por anestesia geral por se tratar de operações de longa duração e grande complexidade. Outra semelhança foi o uso do mesmo relaxante muscular o rocurônico que foi antagonizado pelo sugamadex.